segunda-feira, 16 de novembro de 2009

La Solitudine.

Eu ainda me lembro quando era pequenina e tinha medo do escuro. Quando acreditava que existiam monstros, escondidos debaixo da cama e dentro dos armários, que quando a noite avançava se projectavam na parede e davam vida ao nossos piores pesadelos.
E depois cresci, tal como todos. Deixamos de acreditar em monstros, aprendemos a adormecer sem a luz de presença do corredor acesa e cobrimo-nos com a ilusão de que somos todos muito adultos porque conseguimos lidar bem com a solidão. Mentira, ninguém consegue. É por isso que cada um se refugia em rotinas, amigos imaginários – ou pior, aparentes amigos – e amores, que não são mais do que o reflexo da própria incapacidade de lidar com a solidão. E aprendemos todos a jogar ao mesmo jogo, tornamo-nos mestres na arte do faz de conta. Até que um dia a luz se funde, a história para adormecer não chega e os lençóis já não nos dão abrigo. E os monstros, aqueles que julgávamos inexistentes, reaparecem para nos relembrar que, lá bem no fundo, todos nós guardamos ainda a criança assustada que tem medo do escuro e da solidão de um quarto vazio.